Os primeiros registros sobre o uso da maconha com fins medicinais são atribuídos ao imperador ShenNeng da China, 2737 AC, que prescrevia chá de maconha para o tratamento da gota, reumatismo, malária e, por incrível que pareça, memória fraca. AMA+ME
No começo do século 20, com a proibição gradual da maconha nos EUA, o mundo moderno deu as costas para as pesquisas com a planta sagrada e poderosa usada por médicos, xamãs e druidas por três mil anos. A Pen-T’sao Ching, a mais antiga farmacopeia existente, registra o uso da cannabis na China por volta de 2700 A.C. para tratar dores reumáticas, constipação, transtornos reprodutivos femininos (como endometriose) e malária. De maneira similar, o pai da cirurgia chinesa, Hua Tuo, desenvolveu um componente anestésico de vinho e maconha durante o século 1 A.C. Registros parecidos estão em documentos e relatos da Índia, Oriente Médio, África e até Europa, onde em 1838, William Brooke O’Shaughnessy, um médico irlandês, publicou – após experimentos com animais e humanos – um livro intitulado On the Preparations of the Indian Hemp, or Gunjan. No Tibete, em 6 A.C., a cannabis era usada em rituais budistas tântricos para “facilitar a meditação”, enquanto assírios a usavam como incenso. VICE
O psiquiatra paranaense José Alexandre Crippa, com apenas 47 anos, chefia uma das maiores referências de estudo em sua área, o Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, está entre os poucos profissionais no mundo que comprovaram a eficácia do composto no tratamento da epilepsia, doença que atinge cerca de 600 000 brasileiros. Thaís Botelho

O canabidiol, uma das 480 substâncias derivadas da Cannabis sativa, a maconha, encontrado sobretudo no caule e nas flores, compõe cerca de 1% da planta da maconha. Ele não é psicoativo nem tóxico. Não altera o raciocínio, não produz lapsos de memória nem perda cognitiva, tampouco causa dependência. VEJA de 19 de setembro de 2018, edição nº 2600
O canabidiol age nas áreas onde há maior concentração de receptores dos chamados canabinoides, que são o hipocampo (região ligada à memória), a amígdala (ligada à ansiedade e ao stress), o córtex cerebral (da cognição) e o cerebelo (da coordenação motora).
O canabidiol aplacou sintomas, como os delírios, as alucinações e os problemas de coordenação. Além disso, a substância não provocou as reações adversas típicas dos antipsicóticos, como tremores no corpo e sonolência.
O cientista também considerado o pai da Cannabis medicinal, o israelense Raphael Mechoulam, químico orgânico israelense e professor de química medicinal na Universidade Hebraica de Jerusalém, fez descobertas inovadoras em torno da estrutura dos compostos de cannabis CBD e THC em 1963 e 1964, seguidos de testes clínicos com CBD publicados em 1980. Sechat

Em 1980, uma equipe de investigadores da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo publicou um estudo que deveria mudar a vida de 50 milhões de epiléticos pelo mundo.
As descobertas da investigação, realizada em parceria com a Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, eram, no mínimo, encorajadoras. Os pesquisadores administraram doses diárias de 300 miligramas de canabidiol, o componente não-psicoativo mais importante da maconha, para um grupo de oito pacientes epiléticos. Quatro meses depois do começo do tratamento, quatro deles pararam de ter convulsões e três outros viram a frequência de seus ataques diminuir.
O senhor de 85 anos mora numa casa pequena, sóbria mas elegante, no oeste de Jerusalém, onde o prédio de mármore e as árvores no jardim da frente fazem você esquecer que Israel está em alerta militar permanente. Todo dia ele dirige seu Peugeot prata pelos arredores da cidade, onde passou as últimas cinco décadas decifrando os mistérios químicos da maconha, principalmente o modo como o corpo humano interage com os compostos encontrados na planta. Raphie, como seus colegas o chamam, isolou e especificou a estrutura molecular dos “canabinoides”, os compostos químicos da maconha. Em particular, decifrou o tetraidrocanabinol (THC), a molécula responsável pelo barato da cannabis, e o canabidiol, o principal composto não-psicoativo da planta que carrega várias qualidade medicinais.
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