Com o aumento da disponibilidade, e também com a crescente potência da maconha, é importante que usuários e profissionais de saúde estejam cientes das potenciais interações farmacológicas associadas à utilização deste produto. Sarah T. Melton – maismaismedicina

O tetraidrocanabinol (THC) é o principal canabinoide psicoativo encontrado na maconha. O canabidiol (CBD) também é encontrado em altas concentrações na maconha, mas não é psicoativo; tem efeito antagonista nos receptores canabinoides e parece bloquear alguns dos efeitos do tetraidrocanabinol. O canabinol (CBN) é um canabinoide psicoativo relativamente fraco existente em quantidades muito pequenas na planta da maconha, mas é um dos principais metabólitos do tetraidrocanabinol. A planta de maconha contém mais de 50 outros canabinoides, porém os medicamentos sintéticos aprovados pela US Food and Drug Administration (por exemplo, o dronabinol e a nabilona) contêm apenas tetraidrocanabinol sem canabidiol. O efeito farmacológico desses produtos pode ser diferente do efeito natural da Cannabis.
Os dados sobre as potenciais interações farmacológicas associadas ao uso da maconha são limitados.
Quando tomamos uma substância, o corpo a metaboliza, ou seja, faz a quebra dessa substância. O metabolismo dos remédios acontece por todo o corpo, mas mais comumente no trato digestivo e no fígado. A família de enzimas P450 (CYP450) faz o trabalho de processar substâncias estranhas de forma que elas sejam eliminadas, mas alguns medicamentos afetam estas enzimas, acelerando ou desacelerando o metabolismo. Este processo pode alterar a absorção de medicamentos, daí a interação medicamentosa.
As enzimas do citocromo P450 (CYP450, do inglês CY tochrome P ) são responsáveis pelo metabolismo da maioria dos produtos químicos e dos medicamentos que entram no corpo humano. Os humanos têm aproximadamente 60 genes codificando o citocromo P. As enzimas do CYP450 encontram-se principalmente nos hepatócitos, onde ocorre o metabolismo dos medicamentos.
As enzimas CYP1A2, CYP3A4, CYP2C9 e CYP2C19 são conhecidas por sofrerem alterações com o uso da maconha. Como o CBD e o THC inibem a atividade das enzimas CYP, podem acarretar a diminuição dos efeitos da droga. O cuidado, portanto, deve ser tomado tanto por médicos prescritores de Cannabis, quanto por prescritores da varfarina.
Os canabinoides são usados em diversos tratamentos como estimulação de apetite, epilepsia, controle de dor, náuseas e vômitos em pacientes tratando câncer, ansiedade, entre outros. Em geral, os canabinoides são bem tolerados e seguros, mas é necessário cuidado ao administrar certas drogas ao mesmo tempo da Cannabis, principalmente para idosos e pessoas com doenças de rins e fígado. Cannabis & Saúde

Os autores do estudo foram o professor e diretor de farmacologia Kent Vrana e o farmacêutico Paul Kocis, ambos da Faculdade de Medicina Penn State, que explicam o foco dado em medicamentos com margem terapêutica estreita. Ou seja, aqueles prescritos em doses muito específicas, suficiente para serem efetivos; caso contrário, qualquer excesso pode causar danos. É a chamada “margem terapêutica estreita”.
Os pesquisadores avisam que a atenção não deve se restringir apenas ao uso medicinal da Cannabis. Também o uso adulto ou recreacional precisa ser levado em consideração.
Além dos 57 medicamentos com margem terapêutica estreita, Vrana e Kocis também listaram outros 139 medicamentos que podem ter interações medicamentosas com a Cannabis. Eles planejam atualizar com frequência, sempre incluindo medicamentos recentemente aprovados e conforme novas evidências científicas forem surgindo.
Lista de medicamentos do estudo
- acenocumarol (VKA)
- alfentanil
- aminofilina
- amiodarona
- amitriptilina
- anfotericina B
- argatroban
- busulfan
- carbamazepina
- clindamicina
- clobazam
- clomipramina
- clonidina
- clorindiona (VKA)
- ciclobenzaprina
- ciclosporina
- etexilato de dabigatrana
- desipramina
- dicumarol (VKA)
- digitoxina
- dihidroergotamina
- difenadiona (VKA)
- dofetilide
- dosulepina
- doxepina
- ergotamina
- esketamina
- etinilestradiol (contraceptivos orais)
- etossuximida
- biscoumacetato de etila (VKA)
- everolimus
- fentanil
- fluindiona (VKA)
- fosfenitoína
- imipramina
- levotiroxina
- lofepramina
- melitraceno
- meperidina
- mefenitoína
- ácido micofenólico
- nortriptilina
- paclitaxel
- fenobarbital
- fenprocumon (VKA)
- fenitoína
- pimozida
- propofol
- quinidina
- sirolimus
- tacrolimus
- temsirolimus
- teofilina
- tiopental
- tianeptina
- trimipramina
- ácido valpróico
- varfarina (VKA)
- valproato
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