A estratégia diabólica do tratamento precoce – Atila Iamarino
A covid-19 teve sua taxa de mortalidade divulgada pouco tempo depois dos primeiros casos surgirem. Com uma aparente baixa letalidade (cerca de 2%), muitas autoridades defenderam o discurso de serem mortes aceitáveis e que evitá-las trariam muito mais prejuízos em longo prazo. E para ajudar a passar uma sensação de que algo estava sendo feito, o governo brasileiro começou a defender o uso de substâncias não eficazes no tratamento da covid-19. No vídeo de hoje, Atila Iamarino explica porque defender “tratamento precoce” pode ser uma boa estratégia quando não se quer combater de verdade uma doença como a covid-19.
Se a CPI da Covid mostrou, até agora, evidências da ação e da omissão do governo federal na condução da pandemia que resultaram em um cenário trágico para a saúde pública brasileira, também trouxe à tona novamente um debate que na maior parte do mundo parece superado: o uso do chamado “tratamento precoce” no combate à doença causada pelo novo coronavírus. Glauco Faria – RBA – Porém.net
Senadores governistas plantam a versão de que há uma “divisão na ciência” em relação à eficácia de drogas como a cloroquina (CQ), hidroxicloroquina (HCQ) ou ivermectina contra a covid-19. Citam estudos já contestados, dados confusos e tentam estabelecer a relação de supostos baixos índices de letalidade em municípios e estados brasileiros com a eventual adoção dos medicamentos.

Em 28 de março de 2020, o FDA emitiu uma autorização de uso de emergência para fosfato de cloroquina e sulfato de hidroxicloroquina no tratamento contra a covid-19, mas, com base na revisão contínua das evidências científicas disponíveis, a medida foi revogada em 15 de junho de 2020. A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu orientação semelhante contra o uso.
“A OMS não recomenda hidroxicloroquina para prevenir covid-19. Esta recomendação é baseada em seis estudos com mais de 6.000 participantes que não tiveram covid-19 e receberam hidroxicloroquina. O uso de hidroxicloroquina para prevenção teve pouco ou nenhum efeito na prevenção de doenças, hospitalização ou morte por covid-19. Tomar hidroxicloroquina para prevenir covid-19 pode aumentar o risco de diarreia, náusea, dor abdominal, sonolência e dor de cabeça”, alerta a entidade.
Parte dos testes e estudos que justificariam o uso de cloroquina e hidroxicloroquina para tratamento de covid-19 se baseia em testes feitos in vitro, ou seja, em laboratório, ou em situações específicas cujos efeitos não se repetiram quando realizados em seres humanos. Em julho do ano passado, a professora de química e bioquímica da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e presidenta da International Society for Antiviral Research, Katherine Seley-Radtke, exemplificou isso em artigo no site The Conversation.

Ela acrescenta ainda que a sensação de “falsa segurança” passada a quem acredita na utilização destes medicamentos contra a covid-19 prejudica a aplicação de medidas não-farmacológicas que combatem a transmissão da doença.
A diferença é que o governo nacional do país do Norte, na administração Biden, não estimula ou endossa publicamente o método. Mesmo assim, adeptos do ex-presidente divulgam informações falsas a respeito e cientistas e pesquisadores chegam a ser ameaçados por desmenti-los.
Assim como para o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, a estratégia era fundamental para combater a implementação de medidas de distanciamento social, combatidas pelos dois mandatários desde o início da pandemia. Ambos também insistiam em minimizar os impactos do novo coronavírus e contaram com um exército nas redes sociais para difundir desinformação sobre a covid-19.

Referências:
Butler, D. (1997). Eugenics scandal reveals silence of Swedish scientists. Nature, 389(6646), 9-9.
Brusselaers, N., Steadson, D., Bjorklund, K., Breland, S., Stilhoff Sörensen, J., Ewing, A., … & Steineck, G. (2022). Evaluation of science advice during the COVID-19 pandemic in Sweden. Humanities and Social Sciences Communications, 9(1), 1-17.
Fake lifejackets play a role in drowning of refugees. (2016). Bulletin of the World Health Organization, 94(6), 411–412. https://doi.org/10.2471/BLT.16.020616
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