O principal argumento dos proibicionistas é que drogas prejudicam o indivíduo e a sociedade e que a proibição diminui o consumo. Ambos argumentos que a priori se sustentam: psicotrópicos realmente podem “fazer mal” e em geral as drogas proibidas são menos utilizadas do que as drogas legalizadas. UM CANCERIANO SEM LAR.
Contudo, isso não justifica que o álcool seja legalizado, enquanto a maconha ou o LSD são proibidos; afinal, essas drogas se mostram menos maléficas para o indivíduo do que o álcool. Além disso, a “guerra às drogas” mostra um custo social muito grande, talvez maior do que os custos sociais do aumento do consumo advindo da legalização. nicolas teixeira cabral

Álcool e tabaco são drogas altamente viciantes. Mas sua produção, sua venda e seu consumo são legais na maior parte do mundo. Por isso mesmo, são também as drogas mais usadas no planeta. E o fato de serem permitidas não diminui os danos que podem causar. Ao contrário, isso as torna as substâncias viciantes que representam de longe o maior fardo à saúde pública global, muito mais do que todas as drogas ilícitas, como maconha, cocaína, heroína e outros opioides, juntas, mostra uma revisão geral de estudos que compilou as melhores e mais recentes informações disponíveis atualmente sobre uso de drogas, lícitas ou ilícitas, e suas consequências, publicado no periódico científico “Addiction”. ACT
No fim, parece que a manutenção da proibição de algumas drogas se funda muito mais em moralismo do que em razões objetivas. “Usar droga é errado, logo, deve ser proibido”. Seria como, p. ex., proibir o adultério.
Mas por que proibir a maconha, e não o tabaco? Uma das teorias, a qual encaro com ceticismo, é que nessa época de Nixon a maconha era uma droga típica de negros e hispânicos, e que a proibição da substância legitimaria a perseguição a esses grupos.
A proibição das drogas no século XX pode ter sido motivada por interesses econômicos, moralismo e xenofobia; esses mesmos fatores, somados ao medo de que as drogas corrompam a sociedade, sustentam a proibição até hoje.
O cigarro, assim como o café, o chá e o cacau, é uma droga ao mesmo tempo muito prazerosa e pouco entorpecente. Você pode fumar um cigarro e dirigir ou trabalhar, como faz após tomar um café. Isso não é verdade com o álcool, a maconha, a cocaína nem o LSD. Ademais, o tabaco também é socialmente estimulante, o que lhe favorece ainda mais. Antes da década de 1950, o tabaco era até utilizado como remédio para doenças respiratórias! Não fazia sentido proibir!
O álcool é menos inocente a curto prazo do que o cigarro: ele altera importantemente nossa percepção, causa mortes no trânsito, violência doméstica, brigas de rua. Eu acho que não foi proibido simplesmente porque é uma droga mais querida (assim como o cigarro e o café) pelos humanos ou pelo menos pelos humanos ocidentais (países árabes têm muito maiores restrições ao consumo de álcool). Provavelmente tem a ver com o cristianismo também.
A tendência mundial tem sido legalizar ou tolerar o consumo da maconha, que não por coincidência é a droga ilícita mais utilizada ao redor do mundo. Temos exemplos na Holanda, EUA, Uruguai, Portugal etc.
Algumas anfetaminas são apenas controladas, e não proscritas, por oferecerem potencial terapêutico importante (como para TDAH). Outros psicotrópicos também entram nessa: alguns derivados de cannabis, metilfenidato, opioides etc.
Entre as drogas em geral ilícitas na maior parte dos países, a maconha, que passa por um processo de liberalização, regulamentação ou descriminalização em diversas nações, é a mais usada no planeta. De acordo com o levantamento, 3,8% da população mundial com entre 15 e 64 anos consumiu a cannabis ou seus derivados em 2015. Em segundo lugar vieram as anfetaminas, com uma prevalência de 0,77% nessa faixa etária, seguida dos opioides, prescritos ou não, com 0,37%, cocaína, com 0,35%, e uso injetado de drogas (que podem incluir cocaína e opioides como heroína e morfina), com 0,25%.
Para a Organização Mundial da Saúde, podem ser consideradas drogas as substâncias naturais ou sintéticas com capacidade de modificar uma ou mais funções do organismo. As alterações dependem das características de composição da droga, formas de uso, quantidades e tempo e também das características de quem utiliza, pois a mesma droga pode provocar diferentes efeitos em cada indivíduo. nesp
Os tipos e efeitos são os mais variados, desde as lícitas como medicamentos para dormir ou emagrecer, álcool e tabaco, até as ilícitas como a maconha, cocaína, crack, ecstasy, entre outras.
As drogas fazem parte da história da humanidade, sendo consumidas em busca de prazer, socialização, alívio de dores e da ansiedade e outras alterações do nível de consciência.

A questão então não é se a droga é legal ou ilegal, mas o quão danosa ela é e o quanto ela é usada, fatores esses que fazem do álcool e do tabaco tamanhos fardos à saúde global.
Diante disso, Robert West, professor do University College London, editor-chefe do “Addiction”, considera que a solução para o problema não está na simples proibição, mas em uma mudança de atitude dos governos, e da cultura da população, com relação ao uso dessas drogas, em especial o álcool. Segundo ele, é possível, e necessário, repetir com as bebidas as restrições à publicidade e as alterações na percepção do público que estão levando à redução na aceitação e no consumo de cigarros em muitos países do mundo. Assim, comportamentos como o chamado binge drinking, o consumo excessivo de álcool de uma vez, será visto como anormal, e não tolerado ou até mesmo estimulado.
A indústria do álcool está tão próxima política e pessoalmente dos governantes que é muito difícil eles tomarem uma atitude.
A maior parte da população acaba experimentando essa droga no final da infância e início da adolescência. É uma droga permitida e até mesmo estimulada. Há festas de 15 anos com bebida permitida e ambulâncias na porta. Há eventos culturais e esportivos patrocinados pela indústria do álcool, propagandas que estimulam o consumo — destaca, acrescentando, por outro lado, que a política brasileira em relação ao tabaco pode servir como exemplo para outros países.
Na adolescência, uma época da vida de experimentações e transformações, o consumo é especialmente preocupante, pois estão em busca da autonomia e não aceitam bem recomendações. A dependência química e social é um risco e pode prejudicar o desenvolvimento de jovens causando danos ao seu potencial intelectual, emocional e social.
Para prevenção ao uso de álcool e outras drogas, é importante considerar o tripé: indivíduo-substância-contexto social, político e econômico.
9 comentários em “Tabaco e álcool sim, Maconha não. Por que?!?”